Campos políticos: Esquerda, Direita e Branquitude


I. Invisibilidade é eufemismo. 


Ao endossar pensadores como Marx, Engels, Bakunin, Proudhon, Kropotsky, Lênin, Trotsky, Stálin, Alexandra Kollontai, Emma Goldman, Simone de Beauvoir e Mary Wollstonecraft, certas pessoas podem se referir a você como culto, letrado, esclarecido, revolucionário, companheirocamarada.


Todos esses nomes citados têm uma coisa em comum: s
ão ativistas, militantes, intelectuais BRANCOS. 

Agora, repare na lista abaixo:

Luiza Mahin, Luís Gama, Clóvis Moura, Abdias Nascimento,Francisco Lucrécio, José Correia Leite, Milton Santos, Joel Rufino dos Santos, Carolina Maria de Jesus, Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez, Hélio Santos,Rosane Borges, Djamila Ribeiro.


Esses também têm algo em comum: são intelectuais, ativistas, militantes NEGROS e NEGRAS.


A lista pode ser ampliada globalmente:

Frantz Fanon, Aimé Cesaire, Leopold Senghor, Marcus Garvey, Cheik Anta Diop, W.E.B. Dubois, Walter Rodney, Kwame N'Krumah, Stokely Carmichael (Kwame Ture), Angela Davis, CLR James, Assata Shakur, Samora Machel, Alice Walker, Bell Hooks, Audre Lorde, Steve Biko, Thomas Sankara. Martin Luther King, Rosa Parks, Malcom X, Nelson Mandela, Winnie Mandela...

Existem miríades de pensadores, ativistas e militantes negros e negras com bagagem política e social bem variada mas, aparentemente, eles não são bons o suficiente nem para tema de estudos em certas universidades. Aliás, não são bons o suficiente sequer para lecionar em determinados espaços. Será que não existem especialistas, mestres e doutores negros e negras bons o suficiente? 











"Falta mão de obra qualificada"?


No Ensino Fundamental e Médio, se não for pelo engajamento de professores e professoras, é bem provável que milhões de alunos se formem sem ter noção que existiu e ainda existe - e RESISTE - uma intelectualidade africana, afro-americana, afro-caribenha e afro-BRASILEIRA, só pra resumir. E estamos em um país onde há uma LEI FEDERAL - 10.639/03, atualizada pela Lei 11.645/08 - que torna obrigatório o Ensino de História da África e Cultura Afro-brasileira bem como História e Cultura dos Povos Originários. Pergunta retórica: a Lei é cumprida? Como isso chega nas universidades? Como isso se desenvolve nas escolas públicas e privadas de Ensino Fundamental e Médio? O racismo não será erradicado apenas e tão-somente pela via institucional mas existem dispositivos que devem, sim, serem observados.



II. Que Revolução é essa?

  
  


A palavra Revolução está na mente, no coração e na boca de muitos intelectuais, ativistas e militantes dentro do campo histórico e político que chamamos de Esquerda. Mas que Revolução é essa?

Existe alguma possibilidade de revolução social que se materialize sem abranger  a questão racial? Muitos dizem que "não, isso não é possível". Que é necessário, sim, discutir racismo, discutir patriarcado, machismo e misoginia, entre outras formas de opressão. 

Mas é impressão minha ou o ativismo e militância de esquerda - na qual ainda me incluo - continuam predominantemente brancos, eurocêntricos e masculinos? Eu entendo que é dever de qualquer negro ou negra com alguma consciência levar essas questões a determinados espaços mas...como os brancos ditos "revolucionários" anti-capitalistas, anti-opressão, tem se colocado em relação a isso? Como lidam com seu próprio racismo? E como ficam os negros que se colocam à esquerda diante do racismo, ora sutil, ora indisfarçável, externalizado por seus camaradas?

Essa "desconstrução" vai até onde? 

Se para certos brancos isso é uma questão meramente identitária, para negros e negras isso tem sido, literalmente, uma questão de sobrevivência. 


"É que o anzol da direita fez a esquerda virar peixe"
(in: "Esquiva da Esgrima". Criolo: Convoque seu Buda) 
  
A direita, enquanto campo político e, tal como a esquerda, sujeita aos dinamismos da História, também se reinventa, se reestrutura, se refina - e isso não é um elogio. É realmente surpreendente ver, na atualidade, negros, negras, indígenas, lgbtts, pobres aderindo a projetos de direita? Projetos reacionários e que, em dado momento, provavelmente se mostrarão como um tiro no pé ou "suicídio político"? Acho que o exercício aqui não é simplesmente apontar o dedo e julgar, mas - aos que ainda se colocam sob essa perspectiva - fazer uma autocrítica.


 







III. Revolução, Revoluções


Não sei se algum dia veremos uma Revolução Pan-africana e Afrocêntrica como determinados setores da militância negra defendem avidamente mas, sem sombra de dúvidas, não haverá revolução social calcada em eurocentrismos e branquitude.

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